Que seja doce!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Anjos do caminho

Ontem fui ao cinema,costumávamos ir juntos...mas isso não importa,não agora,acredito que não mais.
Na volta pra casa resolvi me sentar um pouco na praça,havia um senhor que ali já estava antes de mim.

- Veio ver a vista?
-Não,estou só de passagem,moro do outro lado da cidade.

Silêncio ...desses de acanhamento e falta de palavras.

-Moro naquele prédio ali... desde a década de 70.
-Ele é lindo,é de um arquiteto famoso né?
È,mas ninguém liga...

(risos)

- O senhor liga?
-Eu não,já não ligo pra muitas coisas.
-Estou vindo do cinema.
-Não diga,estou por fora ,como dizem vocês jovens,tem muitos filmes bons passando?
-Na verdade não,quase nada.
-Sabe o melhor filme que já vi?
-Hum,qual?
-Um em que o personagem principal (vivido por...deixa eu me lembrar...já fazem 50 anos...)Enfim, ficava o tempo todo sentado,em frente a janela,devido à um acidente havia ficado imóvel.Então observava à tudo,e até testemunhou um assassinato,enquanto sua noiva,(dessa sim jamais me esquecerei) Grace Kelly ,nos brindava com sua beleza memorável,e modelitos diferentes a cada cena.
-As vezes me sinto assim,como se só estivesse aqui para observar.
-Não diga isso minha jovem,a vida não pode ser insípida e inodora,você precisa compor a história,seguir os traços,atuar nela,é por isso que estamos aqui.

Eu quis chorar,mas me contive,aqueles olhos cansados,tinham um brilho especial.

-È ,eu sei,penso assim mesmo só ‘as vezes’...
-Vamos mudar de assunto...podemos falar de política.
-Acho melhor não,retruquei...

Gargalhamos juntos e compulsivamente.

-Podemos ficar ...mudos.

Concordei com um olhar.
E ali permanecemos compenetrados à olhar para os outros e para nós mesmos,cúmplices de nossos devaneos,
espectadores assíduos de tudo à nossa volta.

-Pai?O tempo está esfriando...vamos?

Uma voz serena rompia o nosso valoroso e calmo silêncio.

-Foi bom conhecer o senhor!

Toquei de leve suas mãos trêmulas e pouco aquecidas.
Ele me sorriu com os olhos...e se foi, apoiado pela figura doce e calma que o acompanhava em passos curtos e sem pressa.
Eu repleta de mim,voltei pra casa.

Um comentário:

  1. Esse mundo é muito estranho não é? Às vezes não consigo me encaixar. Penso que tbm nasci para ser observadora. Observar pessoas felizes e cheias de vida. Debruçar no parapeito e observar esse mundinho caótico! Me sinto um robô enferrujado num ferro velho que chamamos de Mundo.

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